EP3 - História por trás dos números
[trilha sonora ritmada, calma, com batida, aproximadamente cinco segundos. Trilha sonora diminui o volume e continua baixo em todo o áudio, começa a locução]
Locução/ Carolina Helena [voz grave e alta/ tom calmo]: Estima-se que uma mulher gaste entre 3 e 8 mil reais com absorventes ao longo de sua vida menstrual. Mas sabemos que essa não é uma realidade de todas as pessoas que menstruam. 26% dos jovens entre 15 e 17 anos não têm condições financeiras de adquirir produtos de higiene.
[Sonora] Vilian - voz aguda, ritmo rápido: É uma questão muito difícil, minha mãe já deixou de ter absorvente pra ela pra dar pra mim, uma época…
Locução/ Carolina Helena [voz grave e alta/ tom calmo]: A voz que você ouviu é da Vilian Verardo, de 46 anos, ela é professora e coordenadora em uma escola estadual de SP. Agora vamos ouvir a Neide, que tem 75 anos e é mãe da Vilian.
[Sonora] Neide - voz grave e baixa: [...] Há uns 20 anos atrás e mais um pouquinho, eu deixava de usar porque ela precisava e eu não tinha dinheiro pra comprar
[Sonora] Neide - Na minha época, quando eu fiquei menstruada, os pais não compravam né, minha mãe não comprava absorventes porque não tinha condição. Aí cê tinha que usar aquelas benditas toalhinhas, e depois ainda tinha que lavar. Eu fui usar absorvente mesmo depois que eu comecei a trabalhar.
Locução/ Carolina Helena [voz grave e alta/ tom calmo]: Uma pesquisa realizada pela ONU estima que uma em cada quatro meninas já faltou à escola durante o período menstrual por não ter acesso a absorventes.
[Sonora] Ana Paula Alves - voz em tom médio e calmo: Eu deixei de estudar no sétimo ano porque eu não tinha absorvente pra ir pra escola. Eu colocava pano quando eu estava menstruada. Pano não segurava. Então, manchava a minha roupa, eu tinha que ficar colocando o casaco pra amarrar. Eu acho muito triste uma criança, uma adolescente, ter que desistir do sonho, ter que desistir da escola... porque a escola é o nosso sonho. Ter que desistir porque não tem um absorvente para colocar. Gente, um absorvente! O que é um absorvente?
Locução/ Carolina Helena [voz grave e alta/ tom calmo]: O áudio que ouvimos é de Ana Paula Alves e foi extraído do documentário “Dignidade Menstrual”, publicado no Youtube pela Vereadora Camila Jara, de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. //// As piadas, provocações e a vergonha são situações que meninas enfrentam durante o ciclo menstrual, principalmente no ambiente escolar. A educação menstrual é importante para que as pessoas que menstruam entendam essa fase de suas vidas. O diálogo pode evitar estigmas e os impactos que essa nova fase traz.
[Sonora] Vilian: Uma menina da quinta, na época era quinta série, 11 ou 12 anos, ela menstruada, os meninos pegaram o absorvente e começaram a zoar, fazer brincadeira. Naquela época não se falava em Bullying. Não existia essa palavra ainda, o termo surgiu um pouco depois desse episódio. Falei, “pera aí que eu vou acabar com essa palhaçada vai ser agora”. Eu falei assim: “toda mulher normal menstrua, de uma certa idade até uma certa idade, e isso vai variar de mulher pra mulher. Não é crime menstruar, não é sujo menstruar, não é feio. É normal.”
Locução/ Carolina Helena [voz grave e alta/ tom calmo]: Situações como essa descrita pela Vilian são frequentes na vida de pessoas que menstruam. Ainda segundo a pesquisa realizada pela UNICEF, 73% das entrevistadas disseram que já sentiram constrangimento na escola ou em outro lugar público por conta da menstruação.
[Sonora] Vilian: Se fosse uma escolha, eu escolheria não menstruar mais. / Eu não gosto porque eu lembro dessas coisas e me traz umas lembranças ruins.
Locução/ Carolina Helena [voz grave e alta/ tom calmo]: A representante do UNICEF no Brasil, Florence Bauer, defende que a dignidade menstrual é um direito de cada adolescente e jovem que menstrua. Que é essencial retirar o tabu em relação ao tema e ainda declara que as escolas têm um papel fundamental nesse processo de acolher todas as pessoas que menstruam, e contribuir para transformar o ambiente escolar em um espaço acolhedor, sem bullying, e que respeite a todas e todos. Agora vamos ouvir a Fernanda, co-vereadora do mandato coletivo das mulheres por mais direitos de São Caetano, em São Paulo
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[Sonora] Fernanda: Essa semana a gente iniciou uma ação de distribuição de absorventes na porta das escolas aqui da cidade. Essa é uma ação que já tem sido feita por aí por vários coletivos feministas, é uma ação que tem se ampliado e tem que ser ampliada. Essa ação vem em decorrência do veto do presidente Bolsonaro, a distribuição gratuita de absorventes para estudantes, pra mulheres em situação de vulnerabilidade e mulheres encarceradas.
[Sonora] Vilian: A gente ficou meio indignada aqui com essa história de vetar o projeto, de doação de absorventes. Na minha escola, graças a Deus tem e vai ter sempre porque se o governo parar de mandar a gente vai comprar e vai pôr, porque o governo tem verba, que é a verba de material de limpeza, a gente compra álcool, compra sabonete pros banheiros. Dá pra comprar um absorvente e deixar lá quando as meninas precisarem.
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Locução/ Carolina Helena [voz grave e alta/ tom calmo]: Este mini podcast usou dados do relatório “Pobreza Menstrual no Brasil: Desigualdades e Violações de Direitos” da Unicef com a UNFPA, dados do relatório Livre para Menstruar, realizado pela Girl Up com apoio da Herself e áudio do documentário “Dignidade Menstrual”, realizado pela vereadora Camila Jara. O roteiro foi feito por Flávia Silva, a edição por Isa Vasconcelos e a locução por Carolina Helena.