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EP 01 - DESIGUALDADES RACIAIS NA POBREZA MENSTRUAL

[trilha sonora ritmada, calma, com batida, aproximadamente cinco segundos. Trilha sonora diminui o volume e continua baixo em todo o áudio, começa a locução]

 

Locução/ Carolina Helena [voz grave e alta/ tom calmo]: “A chance de uma menina negra não possuir acesso à banheiros é quase três vezes a de encontrarmos uma menina branca nas mesmas condições”. Essa frase é do relatório sobre pobreza menstrual no Brasil, construído pela UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância, e pela UNFPA - Fundo de População das Nações Unidas. Esse dado está intrínseco a uma realidade de desigualdades que perpassa o racismo estrutural

 

Sonora [Viviana Santiago: voz alta e grave/ tom incisivo]: Pensar esse racismo estrutural como aquilo que é definidor da pobreza, da falta de acesso aos direitos e que, claro, tem um papel estruturante também na construção da pobreza no Brasil.

 

Locução/ Carolina Helena [voz grave e alta/ tom calmo]: A voz que você ouviu é da Viviana Santiago, mulher negra, pedagoga e que trabalha há um bom tempo no campo dos direitos das crianças e adolescentes no Brasil, pensando as questões de gênero, infância e o direito das meninas. 

 

Sonora [Viviana Santiago]:  Eu considero a pobreza menstrual enquanto um fenômeno, um fenômeno que está profundamente relacionado com as questões de gênero e do controle dos corpos, de vidas de meninas e mulheres, né? E que impacta também as pessoas não binárias e as pessoas trans que menstruam, e que se aprofunda diante da pobreza, diante da desigualdade, diante de outros marcadores que produzem exclusão. 

 

Locução/ Carolina Helena [voz grave e alta/ tom calmo]: Falar sobre pobreza menstrual e desigualdades implica que levemos em conta a raça como um marcador, em que meninas e mulheres negras têm mais chances de serem vítimas desse fenômeno. O relatório da Unicef e UNFPA mostra que 11,6% das estudantes não possuem acesso à papel higiênico no Brasil. Esse número corresponde a um ponto vinte e quatro milhão de alunas. Dessas, 66,1% são negras. Papel higiênico é um dos insumos indispensáveis para a garantia da dignidade menstrual, junto com acesso a banheiro, pia e sabão. Outros indicadores importantes são a água, o saneamento, a coleta de lixo, a energia elétrica, a segurança alimentar e o acesso à compra de absorventes.


 

Sonora [Viviana Santiago]: Como a população negra que está numa situação de subvida, subemprego, pobreza, falta de acesso à saúde, saneamento, educação, é óbvio que elas vivenciam a sua menstruação dentro de um contexto de profunda exclusão e que isso também acaba reverberando como mais um traço da vivenciada por elas, né? 

 

Locução/ Carolina Helena [voz grave e alta/ tom calmo]: Acesso a pia e sabão é importante para a garantia da dignidade menstrual. Três vírgula cinco milhões de meninas não possuem disponibilidade de sabão na escola em que estudam. Destas, dois vírgula vinte e cinco milhões de meninas são negras, ou seja, mais de sessenta e dois por cento do total. Com a pandemia e o fechamento das escolas, a situação pode piorar. No Brasil, de acordo com o relatório, são setecentas e treze mil meninas que não têm acesso a banheiros em seus domicílios. A chance de uma menina negra não ter acesso a banheiros é três vezes maior se comparadas a uma menina branca. Menstruar em casa e na escola pode ser um desafio que também perpassa os marcadores de raça. 

 

Sonora [Gabriela Monteiro/ voz em tom médio e calmo]: A gente não consegue compreender a forma como as opressões operam se a gente realmente não se desafiar a ampliar o nosso olhar para considerar os múltiplos atravessamentos a que estão submetidas as pessoas em situações de vulnerabilidade.  

 

Locução/ Carolina Helena [voz grave e alta/ tom calmo]: Essa é Gabriela Monteiro, mulher negra, nordestina, educadora, mestra em estudos interdisciplinares de gênero, mulheres e feminismo, e atualmente oficial de programa no UNFPA, o Fundo de População das Nações Unidas. A Gabriela fala da importância do olhar analítico interseccional da temática da pobreza menstrual para a compreensão do fenômeno.

 

Sonora [Gabriela Monteiro]: Então isso vai passar por território, isso vai passar por raça, isso vai passar por gênero, isso vai passar por orientação sexual, enfim, há toda uma pluralidade de identidades, de experiências, de trajetórias, que precisam sejam levadas em conta na hora em que a gente vai se dedicar a compreender, seja qual for o fenômeno social, mas que principalmente, precisam ser levadas em conta na hora em que a gente vai reivindicar políticas públicas, e garantir que essas políticas sejam feitas de forma adequada, de forma coerente com as demandas e com as especificidades das pessoas a que elas se destinam. 

 

Locução/ Carolina Helena [voz grave e alta/ tom calmo]: Esse olhar interseccional que ela menciona é uma chave analítica que advém do pensamento feminista negro, cunhado pela intelectual estadunidense Kimberlé Cranshaw…

 

Sonora [Gabriela Monteiro]: E a própria Kimberlé, ela fala sobre interseccionalidade como uma sensibilidade analítica, ou seja, como um exercício, realmente, de aprofundar a nossa complexidade mesmo, de pensamento e de compreensão em torno dos fenômenos e dos processos sociais.

 

Locução/ Carolina Helena [voz grave e alta/ tom calmo]: É importante lembrar que aqui estamos falando de meninas em idade escolar, uma vez que os dados disponíveis e utilizados para a construção do relatório “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdades e violações de direitos”, da Unicef com a UNFPA usou dados da Pesquisa Nacional de Saúde, de 2013; da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, de 2015; e da Pesquisa de Orçamentos Familiares, de 2017 e 2018. Mesmo que os dados sobre a pobreza menstrual que atinge essas meninas seja importantes, há falta de dados para analisar as outras facetas da pobreza menstrual, que vitimam mulheres adultas, em situação de rua, encarceradas, e também homens trans, pessoas não binárias e pessoas intersexo. Um relatório deste ano, feito pela Sempre Livre em parceria com o Instituto Kyra e MosaicLab mostrou que vinte e oito por cento das mulheres de baixa renda são afetadas diretamente pela pobreza menstrual e que quatro em cada dez mulheres convivem com esse temática. No entanto, no relatório não há separação de dados por raça e inclusão de dados por gênero. E é necessário pensar sobre essas diversas realidades.

 

[trilha sonora em volume baixo]

 

Locução/ Carolina Helena [voz grave e alta/ tom calmo]: Este mini podcast usou dados do relatório “Pobreza Menstrual no Brasil: Desigualdades e Violações de Direitos”, da Unicef com a UNFPA. O roteiro foi feito por Samara Wobeto, a edição por Jéssica Medeiros e a locução por Carolina Helena.


 

Relatório Sempre Livre: https://www.semprelivre.com.br/tamo-juntas-milhares-de-pessoas-que-menstruam-estao-em-estado-de-vulnerabilidade 

 

https://adnews.com.br/nova-pesquisa-de-sempre-livre-revela-dados-sobre-pobreza-menstrual-no-brasil/ 

 

Trilha: True Blue Sky by <a href="https://app.sessions.blue/browse/track/67258">Blue Dot Sessions</a>

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